Você já abriu os olhos no meio da madrugada e sentiu que não estava sozinho dentro da própria casa? Não era ladrão. Não era parente que chegou sem avisar. Era algo que não cabia na sua lógica, algo que não deveria estar ali, mas que escolheu justamente a sua cozinha pra se manifestar. Eu sei disso porque aconteceu comigo. E se você acha que um demônio japonês de dois metros de altura, com chifres e presas, só aparece em anime ou filme de terror... fecha os olhos comigo agora... porque ele apareceu na minha casa... e ele pode estar na sua cozinha... nesta mesma noite.Meu nome não importa. Pode me chamar de Renan, se quiser. Moro sozinho num apartamento pequeno no centro de São Paulo, décimo segundo andar, prédio antigo, daqueles em que o elevador range como se tivesse alma. Era julho de 2023. Inverno seco, daqueles que a garganta arranha só de respirar. Eu trabalhava home office, acordava tarde, dormia mais tarde ainda. Vida normal de quem tem 31 anos e já desistiu de várias coisas. Mas tem uma noite... uma única noite... que mudou o cheiro da minha casa pra sempre.
Era umas 3:17 da manhã, eu lembro porque olhei no celular. Acordei com uma sede absurda, daquelas que parecem que engoliram areia. Levantei, cambaleando, só de cueca, e fui pra cozinha no escuro. Não acendi a luz grande. Só a do exaustor, aquela luzinha amarela fraca que mal ilumina o chão. Abri a geladeira, peguei a garrafa dágua... e foi aí que eu senti. Um cheiro. Não era comida estragada. Não era gás vazando. Era ferro quente misturado com incenso queimado e algo podre, doce, como carne deixada no sol. Eu congelei. Porque o cheiro vinha de trás de mim. Dentro da minha cozinha. Eu morava sozinho. Porta trancada. Janelas fechadas. Décimo segundo andar.
Virei devagar. E ele estava lá. De pé, entre a pia e o fogão. Dois metros e pouco de altura, a cabeça quase encostando no teto. Pele vermelha, brilhante, como se tivesse sido mergulhada em sangue fresco. Chifres curvados pra trás, pretos, lustrosos. Olhos amarelos, sem pupila, só dois buracos de luz. E uma boca que não cabia no rosto, cheia de dentes tortos, afiados, babando uma saliva grossa que pingava no meu piso. Um Oni. Exatamente como nos livros de folclore japonês que eu lia quando era adolescente. Mas ele não era desenho. Ele respirava. O peito subia e descia com um som rouco, como um motor velho. E me olhava... como quem olha um prato.
Eu não gritei. Estranho, né? A gente acha que vai gritar, mas o corpo trava. Minhas pernas viraram pedra. A garrafa escorregou da minha mão e se espatifou no chão. O barulho do vidro quebrando pareceu uma bomba dentro daquele silêncio. O Oni inclinou a cabeça lentamente, como se estivesse curioso. E falou. Não com a boca. A voz veio de dentro da minha cabeça, grave, arranhando as paredes do crânio. Você me chamou. Eu balancei a cabeça, sem força pra responder. Você me chamou todas as noites... com a sua raiva... com a sua inveja... com o seu desejo de destruir quem te machucou. Eu senti um frio subir pela espinha, porque... era verdade. Meses antes, eu tinha sido traído. De uma forma tão cruel que desejei coisas horríveis pra pessoa. Cheguei a falar em voz alta, sozinho, bêbado: Eu queria que um demônio arrancasse a alma dela. E agora o demônio estava na minha cozinha... olhando pra mim.
Eu achei que ia morrer ali. Mas ele não me atacou. Ele simplesmente... ficou. Sentou no chão da cozinha como se fosse dono do lugar. As pernas cruzadas, os chifres roçando o armário. E toda noite ele voltava. Sempre entre 3h e 4h da manhã. Às vezes eu acordava com o cheiro. Às vezes com o som de algo raspando a faca no granito. Tentei de tudo: padre, benzimento, sal grosso, oração de todo tipo. Nada funcionava. Porque o Oni não estava possuindo a casa. Ele estava possuindo a minha raiva. Ele se alimentava dela. E quanto mais eu tentava expulsar, mais eu lembrava do que tinham me feito... mais ódio eu sentia... mais forte ele ficava.
Teve uma noite que desabei no chão da cozinha, chorando, e perguntei gritando: O que você quer de mim?! Ele se aproximou... tão perto que senti o calor da pele dele... e respondeu: Quero que você termine o que começou. Eu entendi na hora. Ele queria que eu fizesse o que tinha desejado naquela noite de bebedeira. Queria que eu destruísse a pessoa que me destruiu. E a pior parte... uma parte de mim queria obedecer.
Passei semanas nesse inferno particular. Perdi peso, parei de trabalhar, mal saía do quarto. Até que uma noite eu fiz algo que nunca imaginei. Peguei o celular, abri o Instagram da pessoa que tinha me traído... e escrevi uma mensagem. Não de ódio. Escrevi pedindo perdão. Por ter desejado o mal dela. Por ter alimentado tanto rancor que abriu uma porta que eu nunca deveria ter aberto. Não esperei resposta. Só apertei enviar e apaguei o aplicativo.
Na mesma hora o cheiro mudou. O ar ficou mais leve. Ouvi um rugido baixo... como se algo doesse muito lá no fundo. Levantei correndo pra cozinha... e ele estava lá... mas menor. Os chifres encolhendo, a pele vermelha ficando cinza, rachando como barro seco. Ele me olhou... pela primeira vez com algo que parecia tristeza. E falou, com uma voz quase humana: Você me matou... com perdão. Depois desfez. Virou fumaça preta, densa, que subiu pelo exaustor e sumiu. Nunca mais voltou.
Eu ainda sinto o cheiro às vezes... quando fico com raiva de alguém. É um aviso. Porque demônios japoneses, espíritos vingativos, entidades... talvez eles não sejam só lenda. Talvez a gente mesmo abra a porta com o que guarda no coração. E talvez o maior terror não seja ver um Oni na sua cozinha... mas descobrir que foi você quem cozinhou ele lá dentro... dia após dia... com cada gota de ódio que você não deixou sair pela boca... mas guardou pra fermentar.
Se essa história te fez sentir um arrepio... ou se você já sentiu um cheiro estranho na sua casa quando estava com raiva... comenta aqui embaixo: Eu já alimentei um. Só isso. Três palavras. Porque eu sei que não estou sozinho. E se você acredita que isso realmente aconteceu... ou se tem medo que aconteça com você... se inscreva no canal. Mas só se tiver coragem de olhar pra dentro de você mesmo... antes de olhar pra cozinha no escuro.
Eu te vejo no próximo relato... e, por favor... perdoe alguém hoje. Antes que ele apareça na sua casa também.