Quando o mundo parou, não foi apenas o tempo que silenciou. Foi o respirar do planeta, suspenso entre o medo e a esperança.
Parou com o som das primeiras bombas, nas trincheiras, nos campos, nas cartas escritas à mão, nos corações exaustos de guerra, quando o mundo viu que a paz era frágil.
Parou quando o homem pisou na Lua - e o céu pareceu menor.
Parou com a queda de muros, com o grito das minorias, com as cinzas que tomaram o céu em setembro.
Parou quando o sonho ganhou asas com o primeiro voo e através do brilho que rompeu a escuridão com a invenção da luz.
Parou em Chernobyl.
Parou com os pés nas águas de Brumadinho, com a lama que levou histórias e deixou um silêncio sem fim.
Parou mais uma vez quando um vírus invisível cruzou o mundo. Paramos todos, ao mesmo tempo.
Cada janela virou palco. Cada lar, um abrigo. Cada ausência, uma saudade.
Mas a arte - essa nunca parou. Porque onde há silêncio, a dança sussurra. Onde há dor, o movimento cura.Onde há escuridão, o corpo ilumina.
Hoje, neste palco, não apresentamos apenas coreografias. Apresentamos memórias. Apresentamos resistência. Porque, mesmo quando o mundo parou...nós seguimos dançando.
Este espetáculo é um tributo ao que foi perdido, mas também ao que foi conquistado.
Em dezembro de 2019, na cidade de Wuhan, na China, foi identificado o primeiro caso de coronavírus. Desde então, o vírus se espalhou rapidamente pelo mundo, tornando-se uma pandemia em 2020. A Covid-19 foi mais do que uma doença: foi um momento em que o mundo inteiro parou. De um dia para o outro, as ruas ficaram vazias, os abraços viraram lembranças e o silêncio tomou o lugar do barulho das cidades. O medo era invisível, mas parecia estar em todos os cantos. Cada tosse, cada notícia, cada perda pesava no ar. Mas, mesmo em meio à incerteza, nasceu algo poderoso: a força humana. Pessoas se reinventaram, aprenderam a cuidar à distância, a dizer eu te amo por uma tela, a valorizar o simples - o respirar, o estar vivo. Médicos e enfermeiros tornaram-se heróis anônimos; famílias redescobriram o sentido da união. A pandemia nos feriu, mas também nos transformou. Mostrou que, mesmo separados, podemos estar juntos. Que a esperança é mais resistente que o medo. E que, quando o mundo parou, o coração humano continuou batendo - mais forte do que nunca.
Antes de conquistar o céu, o voo era apenas um sonho distante. Durante séculos, o homem observou os pássaros e imaginou como seria tocar o azul com as próprias mãos. Mas houve quem acreditasse que o impossível podia sair do papel. Santos Dumont transformou engrenagens em esperança, tecidos em asas e coragem em movimento. Assim nasceu o 14-Bis - e, com ele, o primeiro voo da humanidade. Naquele instante, o chão se despediu, o vento virou cúmplice e o sonho ganhou leveza. O primeiro voo não ergueu apenas uma máquina: ergueu também o espírito humano e abriu caminho para todos os que ainda ousam sonhar.
Desde o início dos tempos, o homem olhou para o céu e se encantou com o mistério da Lua. Ela guiou navegantes, inspirou poetas e embalou gerações com seu brilho silencioso. Por muito tempo, parecia inalcançável - até que, em 1969, o sonho atravessou o espaço. Neil Armstrong desceu do módulo lunar e o mundo prendeu a respiração: Um pequeno passo para um homem, um grande salto para a humanidade. Naquele instante, a Lua deixou de ser apenas um ponto distante no céu e se tornou símbolo do que a humanidade é capaz de conquistar quando acredita. O homem levou à Lua mais do que bandeiras: levou coragem, curiosidade e a certeza de que nenhum sonho é longe demais.
A Segunda Guerra Mundial foi um dos períodos mais sombrios da humanidade. Entre 1939 e 1945, o mundo mergulhou em dor, destruição e medo. Milhões de vidas foram perdidas, famílias separadas, cidades inteiras foram reduzidas a ruínas. Nos campos de batalha e em tantas outras frentes, a humanidade conheceu o limite da crueldade - mas também a força da esperança. Mesmo entre as ruínas, havia quem acreditasse em recomeçar, em reconstruir, em não deixar que o ódio fosse a última palavra. A guerra acabou, mas suas cicatrizes permanecem como um lembrete eterno do valor da paz e da necessidade de nunca esquecer o que a intolerância e o poder desmedido podem causar.
O Holocausto foi uma das maiores tragédias da humanidade. Entre 1941 e 1945, milhões de judeus, além de ciganos, pessoas com deficiência, homossexuais e opositores políticos, foram perseguidos e perderam a vida sob o regime nazista de Adolf Hitler. Famílias inteiras foram arrancadas de suas casas e levadas a campos de concentração e extermínio, onde a dor, o medo e a perda se tornaram rotina. Foi um tempo em que a intolerância e o ódio tentaram apagar vidas e histórias, mas não conseguiram destruir a memória nem a esperança. O Holocausto é um lembrete sombrio do que acontece quando a humanidade esquece de ser humana - e um chamado eterno para nunca permitir que o silêncio seja cúmplice da crueldade.
Foram anos em que o medo cobriu o mundo de cinza. As ruas silenciaram, os corações se partiram e a esperança se escondeu entre as linhas de cartas e despedidas. Mas, mesmo entre bombas e lágrimas, havia quem acreditasse que a paz voltaria a florescer. E então, em 1945, o som da guerra se calou. O barulho dos tiros deu lugar ao riso, e o peso da dor cedeu ao alívio. As bandeiras voltaram a tremular, as ruas se encheram de abraços e o mundo respirou - enfim - liberdade. O Dia da Vitória marcou o fim da escuridão e o renascer da humanidade, lembrando que nenhuma noite é eterna e que a esperança sempre encontra o amanhecer.
Antes da luz elétrica, as noites eram longas e o mundo adormecia cedo. As casas se iluminavam com o tremor das velas, e a escuridão fazia morada nas ruas e nos sonhos. Mas Thomas Edison acreditou que até a noite podia brilhar. Entre tentativas, fracassos e descobertas, ele conseguiu prender o brilho do sol dentro de um pequeno vidro. A lâmpada não iluminou apenas as cidades: iluminou também a imaginação humana. Com ela, nascia um novo tempo, em que o homem podia estender o dia e acender ideias. Porque onde há luz, há caminho. E onde há caminho, há vida, esperança e movimento.
Em 1987, em Goiânia, um pequeno brilho azul mudou para sempre a vida de muitas pessoas. Era o Césio-137: um pó radioativo, perigoso e invisível aos olhos. A curiosidade e a falta de informação transformaram aquele brilho bonito em tragédia. Famílias foram contaminadas, casas precisaram ser destruídas e vidas foram profundamente afetadas. O que parecia apenas um achado de sucata tornou-se um dos maiores acidentes radiológicos do mundo. O medo, a dor e o preconceito tomaram conta da cidade. Mas, entre as marcas da tragédia, nasceu também a força de um povo que aprendeu, com lágrimas e coragem, o valor da vida e da informação. O Césio-137 marcou Goiânia - não apenas pela radiação, mas pela lembrança de que a beleza, às vezes, pode esconder o perigo, e que o conhecimento pode salvar o que a ignorância destrói.
Durante muitos anos, o mundo dentro das telas era preto e branco. As histórias viviam em sombras, os sonhos tinham tons de cinza e a imaginação fazia o resto. Mas então, a tecnologia deu um salto e a mágica aconteceu: as cores invadiram a tela como se a vida tivesse apertado o botão do viver. O azul do céu, o vermelho das flores e o dourado do sol encheram os olhos e o coração. As famílias se reuniam diante da televisão e, juntas, descobriam novas emoções. Quando a televisão ganhou cor, o cotidiano ficou mais bonito, porque as cores não mudaram apenas as imagens - mudaram também o olhar sobre o mundo.
A Ditadura Militar, no Brasil e em outros lugares do mundo, foi um tempo em que o som das botas falou mais alto que a voz do povo. Em vários países, governos tomaram o poder pela força, apagando sonhos, prendendo ideias e silenciando corações que apenas queriam liberdade. No Brasil, de 1964 a 1985, viver plenamente foi um ato de coragem. A censura dominava jornais, músicas e pensamentos. Jovens desapareceram, famílias choraram e a esperança parecia proibida. Mas, mesmo sob a sombra do medo, a resistência floresceu. Poetas, artistas, estudantes e cidadãos comuns lutaram, acreditando que a liberdade era mais forte que qualquer farda. E, quando a democracia enfim retornou, trouxe consigo uma lição eterna: a liberdade é um bem precioso e precisa ser defendida todos os dias, para que o silêncio da ditadura nunca mais volte a ecoar.
Houve um tempo em que o som das palavras causava medo. O silêncio era imposto, e a arte precisava sussurrar para continuar existindo. Os palcos se fecharam, mas os artistas não se calaram. Nas entrelinhas dos versos e nos corpos que dançavam escondidos, a liberdade encontrava refúgio. Cada gesto era resistência, cada movimento, um grito disfarçado de poesia. Mesmo quando a censura tentou apagar as cores, a arte reinventou a paleta: fez do medo coragem, da dor esperança e, do silêncio, música. Porque a liberdade pode ser contida, mas nunca apagada. E, enquanto houver arte, haverá voz.
Há mais de dois mil anos, o mundo parou diante de um ato de amor incomparável. No alto de um monte, sob o peso de uma cruz, Jesus Cristo entregou a própria vida por amor à humanidade. O céu escureceu, a terra tremeu e o silêncio do mundo testemunhou a dor e a grandeza daquele sacrifício. Não foi apenas um homem crucificado: foi a esperança sendo ferida para, em seguida, renascer. Cada gota de sangue derramada falava de perdão, de compaixão, de um amor que ultrapassa o tempo e o entendimento. Naquele instante, o mundo se curvou diante do mistério da fé. E, ainda hoje, quando lembramos a cruz, o coração se cala, porque sabemos que foi ali, entre dor e misericórdia, que a história da humanidade mudou para sempre.